quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Não importa nem isso que estou escrevendo

Dois Meninos de cabelo oxigenado chupando tangerina sentados no chão. Não mais que 9 anos cada um.
Dois jovens com dois filhos dividindo o mesmo carrinho de bebê encardido pelo tempo, pelo uso, ou pelo vento. A Jovem Mãe carrega o menino menor nos braços enquanto se distrai com um brinquedo infantil (ainda não sei se ela brincava com o filho ou para si...).
A fila na Estação não está tão grande, e com exceção de uma criança que foi para frente à pedido da mãe, hoje, curiosamente, ninguém furou a fila.
Enquanto todos subiam em busca de seus lugares no ônibus, um homem paraplégico (Talvez. Não sei identificar o que ele tem) reclamava com o cobrador dizendo que queria subir, que este o carregasse se o elevador de cadeirantes estava com defeito.
Alguns minutos atrás eu estava pensando no que minha mãe me disse mais cedo, que eu não tenho feito teatro atuando, só produzindo(...)que tenho que ter foco e coisa e tal. De fato faz algum tempo que abri mão de estar no palco. Na estação, enquanto estava na fila e até então só via Dois Meninos de cabelo oxigenado chupando tangerina sentados no chão, roupas sujas e rasgadas, recostados no balcão de informações chupando tangerina e jogando as cascas para todos os lados, mirando em quem passasse, jogando o mais longe possível, eu pensava no mundo que já acabou e me convencia a arranjar um amigo comprometido com a "arte-educação", interessado em fazer um trabalho de teatro a sério; pensei sobre o que eu iria falar.
Não quero falar de amor, nem de sexo; fazer piadas no palco só para prender o público, "esse público". Queria ensinar alguma coisa,dar alguma perspectiva de destino possível...mas seria muito teórico e Eles não cairiam nessa de que se estudarem e trabalharem duro vão ser alguém na vida. A quem estou enganando? Ainda há muito o que mudar.
Quero dizer para as Prostitutas que vendam seus corpos se quiserem ganhar dinheiro, mas não pensem que será fácil. Quero falar aos ladrões que aprendam a roubar direito, que roubem e se revoltem contra a macroestrutura por trás disso. Quero explicar para todo mundo que essa realidade é só uma ilusão.
Não importa a dor, não importa o medo,não importa a raiva, nem mesmo o sofrimento nas torturas que vem por aí: é tudo sangue, é tudo vida.
Como vou dizer pra essas Crianças não matarem se já nasceram mortas? Como vou dizer que não morri?
"-Meu Deus do céu!" Foi a única coisa que alguém foi capaz de dizer quando os Dois Jovens desceram do ônibus com suas Crianças. Me pergunto se ninguém informou àquela Senhora que Deus morreu. Agora só somos nós, fazer o que? Sorrir e dançar.